Em 2025, o Brasil enfrenta um cenário político complicado, marcado por mudanças no governo e uma reforma ministerial que está longe de ser concluída. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem enfrentado desafios para reorganizar sua equipe ministerial, principalmente devido à configuração política do Congresso e à aproximação das eleições de 2026. A especulada reforma ministerial, que era vista como uma forma de balancear os ânimos dentro da base governista, se restringiu principalmente ao PT, sem grandes alterações nas pastas ocupadas por outros partidos. Essa situação reflete a dificuldade de Lula em atrair novos aliados para o Executivo, algo que era mais fácil em gestões anteriores.
As dificuldades para avançar com a reforma ministerial de Lula são explicadas por uma série de fatores. Entre eles, destaca-se o impacto do orçamento da União, que ficou sob o controle de parlamentares durante os governos anteriores, em especial durante as gestões de Jair Bolsonaro e Arthur Lira. Com a descentralização dos recursos, muitos parlamentares encontram mais vantagens financeiras e políticas em se manter como aliados do Congresso, em vez de assumir uma posição ministerial no Executivo. Para muitos políticos, a troca por cargos no governo não compensa, uma vez que a influência de um ministro pode ser inferior à de um parlamentar que controla grandes emendas.
O principal exemplo dessa situação é a recusa do deputado Pedro Lucas (União-MA) à pasta das Comunicações, que gerou mal-estar dentro do governo. O deputado alegou que sua saída criaria problemas dentro de sua base política, mas, por trás de sua decisão, estava o fato de que seu poder de negociação de emendas e o acesso ao orçamento seria reduzido se assumisse a pasta. A recusa de Pedro Lucas expôs a dificuldade de Lula em montar uma equipe que seja ao mesmo tempo forte e alinhada com seus objetivos políticos, além de destacar o enfraquecimento da influência do Executivo sobre o Legislativo.
Dentro do PT, as mudanças ministeriais ocorreram, mas sempre restritas a membros do próprio partido, com exceção de algumas pastas como Comunicações e Previdência, que sofreram alterações devido a escândalos envolvendo seus ministros. Essa reforma interna dentro do partido visa manter a coesão e dar respostas à base aliada, mas sem grandes transformações no poder dentro do governo. Lula, por mais que tenha sido pressionado por aliados a promover uma mudança mais ampla, tem se mostrado reticente em ir além das trocas no PT, talvez com receio de desestabilizar o delicado equilíbrio político que mantém em Brasília.
O governo de Lula também se vê pressionado pelos cálculos eleitorais de 2026. A proximidade das eleições gerais cria um ambiente de cautela, onde partidos do Centrão e da base governista evitam se comprometer em fazer grandes mudanças ou em aceitar ministérios que possam representar um risco para suas chances eleitorais. O PSD, por exemplo, havia solicitado uma ampliação de sua participação no governo, pedindo pastas com orçamentos maiores, mas o partido também tem se mostrado menos disposto a se envolver profundamente com o governo, preferindo manter uma postura mais neutra enquanto avalia as chances de lançar uma candidatura própria em 2026.
A política de emendas e a distribuição de recursos no Congresso têm sido uma das principais causas da frustração de Lula e sua base. Durante o governo Bolsonaro, a liberação de emendas foi um dos principais instrumentos de negociação, e muitos parlamentares continuam a priorizar sua relação com Lira e o Congresso, onde têm mais facilidade para garantir recursos para seus estados e redutos eleitorais. Lula, por sua vez, tenta balancear esse jogo político, mas as dificuldades em garantir que as emendas do Executivo cheguem de forma eficiente aos aliados têm limitado sua capacidade de formar alianças duradouras.
Além disso, o cenário econômico também tem contribuído para a resistência dos partidos em ampliar seu apoio ao governo. A incerteza sobre os rumos da economia e as crescentes críticas ao governo em temas como o crescimento da inflação e o desemprego têm afetado a popularidade de Lula. Isso cria um ambiente de desconfiança, onde partidos que inicialmente estavam alinhados ao governo, como o MDB, têm hesitado em fazer promessas de apoio mais sólidas, temendo o desgaste político à medida que a economia enfrenta desafios.
Em resumo, a reforma ministerial de Lula está marcada por um cenário de contenção e cautela. As trocas no governo têm sido limitadas e restritas principalmente ao PT, com pouca margem para mudanças que envolvam outros partidos. O governo enfrenta a pressão de um Congresso cada vez mais poderoso, onde os parlamentares têm mais influência do que os ministros devido ao controle das emendas. Ao mesmo tempo, a aproximação das eleições de 2026 torna o ambiente político ainda mais complexo, com as lideranças partidárias pesando cuidadosamente as opções antes de se comprometer com o governo.
Por fim, a reforma ministerial de Lula reflete uma mudança no jogo político do Brasil, onde o poder de negociação e a alocação de recursos têm sido mais eficazes do que a troca de ministros. Essa realidade exige do governo um manejo mais sofisticado das relações políticas e uma adaptação aos novos tempos, onde as influências no Congresso e nas bancadas parlamentares muitas vezes superam o poder do Executivo. O governo de Lula, portanto, precisará reavaliar suas estratégias se quiser obter o sucesso político desejado e cumprir suas promessas para o futuro do país.
Autor: Alexeev Voronov Silva