O avanço da criminalidade sobre setores econômicos estratégicos tornou-se uma ameaça real à estabilidade econômica e à segurança jurídica em várias regiões do país. A infiltração de organizações criminosas em cadeias produtivas antes consideradas sólidas e organizadas tem revelado uma nova dinâmica de atuação ilícita: a ocupação de espaços legítimos por meio da coação, da ameaça e da corrupção. Essa estratégia silenciosa compromete investimentos, desestrutura empresas familiares e desestimula o crescimento de setores inteiros da economia, especialmente no interior do Brasil, onde o impacto social é ainda mais profundo.
A atuação criminosa se intensifica a partir de um padrão bem definido: mapear as principais rotas produtivas, identificar os pontos frágeis da cadeia e forçar a aquisição de propriedades estratégicas. Ao longo dos últimos anos, diversas denúncias trouxeram à tona um cenário em que empresários e produtores rurais foram pressionados a vender suas terras e empreendimentos. As transações, quase sempre feitas em dinheiro vivo, ocorriam com valores muito abaixo do mercado. Muitos, sob ameaça direta, não viam outra saída a não ser ceder. Esse tipo de operação criminosa enfraquece o ambiente de negócios e coloca em risco a segurança dos produtores que ainda resistem.
Os impactos desse tipo de tomada territorial vão além do prejuízo econômico. Há um verdadeiro colapso na confiança entre agentes do setor. Produtores passam a desconfiar de novas negociações, investidores recuam diante da instabilidade e a região afetada perde competitividade. Quando organizações criminosas ocupam espaços legítimos da economia, não apenas o lucro se torna ilegal, mas todo o ciclo produtivo sofre com perdas em eficiência, transparência e segurança. Essa realidade exige ações articuladas e permanentes entre o setor público e privado, que vão muito além de operações pontuais.
O modus operandi dessas organizações mostra que o foco está na dominação de toda a cadeia, desde a produção agrícola até a distribuição de derivados. Ao garantir controle em várias pontas do processo, o grupo criminoso estabelece uma estrutura que, à primeira vista, pode parecer legalizada, mas que, na prática, serve apenas para alimentar um ciclo de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Essa simulação de legalidade torna o combate ainda mais difícil, exigindo investigações profundas e inteligência integrada entre diversas instituições de fiscalização e segurança.
O controle territorial não se limita apenas à pressão econômica. Muitos empresários relataram casos em que suas propriedades foram alvo de incêndios ou ações suspeitas, que serviam como alerta para os que pensavam em resistir. A intimidação se tornava uma arma frequente. Com isso, a sensação de impunidade cresce, principalmente em regiões mais afastadas dos grandes centros, onde o acesso à proteção e ao sistema de justiça é mais limitado. Essa ausência de garantias básicas encoraja ainda mais a expansão dessas redes criminosas, criando um ciclo difícil de romper.
A desarticulação desse tipo de esquema precisa considerar não apenas a repressão, mas também políticas de fortalecimento institucional e apoio aos empreendedores locais. É fundamental que empresários e produtores tenham meios seguros para denunciar, acesso a informações confiáveis e garantias de que seus direitos serão preservados. Ao criar um ambiente de confiança, é possível desestimular a entrada do crime organizado e garantir que a economia continue funcionando com base em regras claras, livre de coações e ameaças.
Além da dimensão criminal, há também uma consequência direta para o consumidor. O controle ilegal de setores como o de combustíveis, por exemplo, abre brechas para adulterações, fraudes e práticas que colocam em risco a saúde pública e a segurança dos usuários. Quando o controle é feito por organizações criminosas, a prioridade não é a qualidade, mas o lucro rápido e disfarçado. Essa realidade compromete também a imagem do setor perante o mercado externo, prejudicando exportações e parcerias internacionais que exigem rastreabilidade e responsabilidade socioambiental.
A resposta efetiva a esse tipo de infiltração requer mais do que operações pontuais. É preciso uma presença contínua do Estado, com órgãos fiscalizadores atuando de forma preventiva, além de um engajamento verdadeiro do setor privado. Ao criar barreiras institucionais, incentivar a transparência e apoiar os que se mantêm dentro da legalidade, é possível desarticular a lógica de dominação silenciosa que tanto prejudica a economia e a segurança no campo. Essa união é o único caminho para restaurar a confiança e impedir que a criminalidade continue se disfarçando de empreendedorismo.
Autor: Alexeev Voronov Silva